Podemos pensar o quanto vale a pena viver e como se deve enfrentar um dia depois do outro.

Pode-se dizer que não é fácil, porque as coisas estão sempre acontecendo diante dos nossos olhos, e tudo está ficando cada vez mais rápido. Estive pensando que talvez não seja preciso “lutar” (não o tempo todo), pois já estamos acostumados a agir assim, e tanto que chega ser automático.

Lutamos para nascer, para dar os primeiros passos, para entrar na primeira escola, para encarar a integração no primeiro emprego, para ganhar o reconhecimento do outro. Somos lutadores por natureza.

Às vezes lutamos até sem saber o porquê. Será que precisamos ver tudo como uma luta constante? Às vezes é preciso parar. Olhar o que está acontecendo em torno e observar. Apenas observar. Sentir e se permitir.

Outro dia, sentado, enquanto olhava para meu jardim, eu observava uma borboleta e, de repente, em meio a um sorriso percebi meu rosto se estampar de tristeza. Foi confuso.

Meus pensamentos acelerados entre questionamentos velozes, mal dando tempo de processar tudo. Um grito interno disse, em tom alto, “PAREM! É só uma borboleta”.

Foi nesse momento que a tristeza se instalou em todo o meu corpo. Meus pensamentos estavam focados naquela beleza de criatura, mas tudo que eu pensava era apenas em quanto tempo aquela bela borboleta ainda tinha para viver.Se conseguiria sobreviver aos predadores ou se iria chegar ao seu curto destino, seja ele qual for.

Qual o sentido de um ser vir a este mundo para viver tão pouco tempo? Minha vida inteira passou pela minha mente e, como num surto de comparações, fiz uma análise de toda a sorte que eu tenho por ter vivido até aqui, com os meus 49 anos, e por tudo que eu ainda posso viver que, com certeza, é muito mais tempo do que aquela frágil beleza da natureza teria.

Mesmo assim, não consegui me alegrar. Parece que naquele momento o mundo inteiro se misturava com as cores e toda a fragilidade daquela pequena borboleta.  Por um instante, tudo parou. Meus pensamentos silenciaram.

Meu olhar era fixo nas cores das asas da borboleta, que batiam lentamente, voando sem pressa, sem medo, sem julgamentos. Foi quando os pensamentos voltaram, lentos, claros e consistentes com uma voz em tom sereno – “Viva um dia depois do outro”.

Tudo fez sentido. Aquela criaturinha não estava nem aí para o amanhã. Tudo que ela parecia querer era voar, apreciar cada momento com toda sua leveza e inquietude de descobertas.

A cada batida de suas asas a alegria estava presente e se expandindo com o vento, catalisando mais e mais vontade de viver. Dava para sentir até mesmo a música de tanta felicidade, com seu todo voando em compassos e ritmos tão belos quanto suas cores.

Estava muito evidente que sua leveza e sintonia com o universo tinha um único propósito – “Viver o máximo enquanto puder”.

Em fim, percebi um sorriso estampado em meu rosto e uma alegria indescritível. Aquela borboleta, tão pequena, havia se tornado uma gigante, que se foi, mas deixou um aprendizado para toda uma vida. Grato!!!

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